Promoção da Igualdade Racial mobilizou estudantes

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Caminhada de Promoção da Igualdade Racial mobilizou cerca de 650 mil estudantes no estado

Comunidade escolar, movimentos sociais e órgãos públicos se uniram para manifestar contra o racismo no Dia Nacional da Consciência Negra

 

Nem mesmo a forte chuva que caía em Juiz de Fora, no Território Mata, nessa segunda-feira (20/11), desanimou os mais de 3 mil estudantes, professores e diretores da rede estadual que se uniram para manifestar contra o racismo e por mais políticas que promovam a redução das desigualdades.

Faixas, cartazes e adereços que exaltavam a cultura afro-brasileira foram expostos pelos estudantes de cerca de 20 escolas estaduais de Juiz de Fora e região, que se concentraram na Escola Estadual Fernando Lobo para a 3ª Caminhada de Promoção da Igualdade Racial, que contou com a participação da secretária de Estado de Educação, Macaé Evaristo.

O evento, realizado pela Secretaria de Estado de Educação (SEE), marcou o Dia Nacional da Consciência Negra e o encerramento dos “20 Dias de Ativismo Contra o Racismo”, iniciativa da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora e movimentos sociais do município.

 A Caminhada de Promoção da Igualdade Racial é a culminância de vários projetos desenvolvidos ao longo do ano nas escolas, onde os estudantes são motivados a apresentarem à comunidade escolar essas ações. Ir para as ruas significa ampliar o coletivo que tem lutado para uma educação antirracista e mais inclusiva, que reconheça as diferenças e suas potencialidades.

A juventude estudantil de Juiz de Fora se preparou ao longo do mês de novembro e participou ativamente das atividades promovidas na cidade. E mesmo com a forte chuva, os estudantes insistiam em fazer o trajeto previsto, saindo da Escola Fernando Lobo em direção ao Parque Halfeld, no centro da cidade, o que não aconteceu por motivos de segurança. Mas a chuva não apagou o brilho da celebração, que aconteceu ali mesmo e se estendeu ao longo da manhã na quadra coberta da unidade.

Cenas de ativismo foram vistas em todo o estado. A Superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino, Iara Pires Viana, estima que foram mais de 650 mil estudantes participando de diversas atividades para celebrar o Dia da Consciência Negra.

A ação é parte integrante da Campanha Afroconsciência, tendo o objetivo de reconhecer e valorizar a história e a cultura dos africanos na formação da sociedade brasileira, superar preconceitos históricos e garantir condições iguais de aprendizagem e desenvolvimento para todos, conforme Lei Federal nº 10.639/2003.

Primeira negra a ocupar uma secretaria estadual de Educação, Macaé Evaristo ressaltou a importância de criar políticas públicas e sociais voltadas para a juventude negra. “Estamos aqui para dizer que basta de racismo na sociedade brasileira e em nossas instituições e temos que trabalhar todos os dias para que isso acabe”, declarou.

Sobre a escolha do local de concentração, Macaé lembrou que a escola foi algo de vândalos recentemente. “A escolha deste lugar não foi à toa, essa unidade foi agredida com frases racistas e temos que ter atenção em duas coisas em Juiz de Fora. A primeira é o genocídio de jovens negros na cidade e a segunda é são as desigualdades muito presentes aqui. É preciso construir a redução das desigualdades através da educação”, concluiu. 

Juiz de Fora tem apresentado números alarmantes com relação à violência contra a juventude negra na cidade. Em setembro deste ano, a Escola Estadual Fernando Lobo foi alvo de vândalos que picharam uma parte externa do muro da escola com frases de cunho racistas.

Além do mais, Juiz de Fora é a terceira cidade do Brasil e a primeira em Minas Gerais onde o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os índices de educação, longevidade e renda, mostrou a maior desigualdade entre brancos e negros.

A caminhada e outras ações do Dia da Consciência Negra foram realizadas simultaneamente em diversas escolas da rede estadual mineira. Em Belo Horizonte, estudantes e vários membros da comunidade escolar de unidades da região saíram às ruas do Aglomerado da Serra com bandeiras da luta contra o racismo.

O secretário adjunto de Estado de Educação, Wieland Silberschneider; a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica, Augusta Mendonça; e a superintendente regional de ensino da Metropolitana A, Idalina Franco, participaram da Caminhada da Promoção da Igualdade Racial no Aglomerado.

 

Vinte Dias de Ativismo Contra o Racismo

A largada na programação do mês da Consciência Negra em Juiz de Fora foi no dia 1 de novembro, com a ação “20 Dias de Ativismo Contra o Racismo”, realizada pelo movimento Convergência Negra, em parceria com a Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora, com o Conselho Municipal para Promoção da Igualdade Racial e outros movimentos negros do município.

Foram dezenas de atividades realizadas diariamente, com a finalidade de mobilizar a sociedade civil, escolas estaduais, associações e ativistas sociais no sentido de reivindicar políticas públicas que visem o combate à crescente mortalidade de jovens negros e à disparidade social entre negros e brancos no município.

A superintendente regional de ensino de Juiz de Fora, Fernanda Moura, fez uma análise positiva das atividades durante o mês da Consciência Negra. “Nós tivemos uma agenda intensa e conseguimos atingir praticamente todos os bairros da cidade. Infelizmente, não conseguimos fazer a Caminhada pelas ruas devido à chuva, mas a participação de várias escolas, ao longo do mês, além de atividades culturais é o que realmente importa para fortalecer a consciência de todos os cidadãos”, comentou Fernanda. 

 A programação contou com rodas de conversa, palestras e debates, que culminaram na Caminhada. Na programação, o evento também contou com diversas manifestações artísticas, como grafitagem dos muros da Escola Estadual Fernando Lobo, apresentação de música, dança de rua, leitura de poesia, rap e freestyle.

A estudante Laura Coutinho, da Escola Estadual Hermenegildo Vilaça, fez uma emocionante apresentação da música “Olhos coloridos”, do compositor Macau, ao lado da cantora e assessora da Superintendência de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino, Elzelina Dóris. “Estamos sendo julgados o tempo todo apenas por nossa cor e campanhas como esta são fundamentais para nos dar voz e sermos ouvidos”, relatou a estudante.

 

Políticas públicas

Ainda na parte tarde dessa segunda-feira (20/11), diversas lideranças de movimentos sociais participaram da Tribuna Livre da Câmara Municipal de Juiz de Fora. O objetivo é fazer um diagnóstico sobre as atividades desenvolvidas este mês, apontando saídas para a atual situação da população negra da cidade.

Para fechar o mês da Consciência Negra, será realizada audiência pública, no dia 30, pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para discutir o enfrentamento à violência e aos homicídios que afetam principalmente a juventude negra e pobre no país. Na audiência, será construindo um documento oficial que posteriormente será entregue na Câmara Municipal de Juiz de Fora.
 

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