Servas encerra primeiro ciclo do Rodas de Leitura na ala LGBT
Organização deixou biblioteca com 300 obras para os detentos do presídio de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Após três meses, o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) acaba de encerrar o primeiro ciclo do Rodas de Leitura. O projeto tem por objetivo estimular o hábito de ler e abrir janelas para refletir sobre um futuro melhor. Para tanto, prevê encontros para detentos, em unidades prisionais, com contadores de histórias voluntários, escritores, além de promover dinâmicas de Leitura, elaboração de resenha, entre outras ações.
O último encontro, realizado na quarta-feira (26/7), na ala LGBT do Presídio de Vespasiano, no Território Metropolitano, contou com a presença do historiador e escritor, Luiz Fernandes de Assis, autor do livro Na esquina do século, trabalhado pelos detentos. Neste encerramento de ciclo, também foi anunciado que a unidade prisional receberá uma biblioteca com 300 obras, em continuidade ao projeto idealizado pelo Servas e Sempre um Papo, em parceria com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap).
Experiência
O encontro foi marcado por muito envolvimento dos presos e, ao mesmo tempo, considerado enriquecedor pelo escritor Luiz Fernando de Assis. “Foi algo completamente diferente, superou todas as minhas expectativas, foi estimulante. Fiquei surpreso com o envolvimento e curiosidade deles, com perguntas de todos os tipos”, apontou. Na avaliação do historiador, o Rodas de Leitura é um projeto “riquíssimo, que deveria ser ampliado para outros setores da sociedade”, completou.
Pedagoga da unidade, Paula Cristina Silva classificou o projeto como 'grandioso'. “O Rodas de Leitura do Servas extrapolou todas as expectativas e o trabalho desenvolvido por todos que participaram fez, de um projeto de remição por leitura, um processo de ensino/aprendizagem que acrescentou muito para as nossas vidas e nos propiciou momentos inesquecíveis”, enfatizou.
Flavia Moranguinho, uma das pessoas privadas de liberdade da ala LGBT, viveu uma nova experiência no Rodas de Leitura. “Estou aprendendo o que é o mundo normal, de ler e aprender. Nunca tive essa oportunidade, está sendo uma experiência nova e enriquecedora para mim”, destacou.
Ampliação
Segundo o Servas, o plano é que o Rodas de Leitura seja expandido para mais oito unidades prisionais de Minas Gerais a partir de agosto: os presídios José Maria Alckmin, Antônio Dutra Ladeira, Inspetor José Martinho Drumond e José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves; Professor Jason Soares Albergaria e os presídios Bicas 1 e 2, em São Joaquim de Bicas, além de no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, no bairro Horto, em Belo Horizonte. As rodas são oferecidas para até 20 pessoas e a duração é de quatro meses.
O trabalho é bastante relevante para o Servas e para as pessoas privadas de liberdade, como avalia a gestora do projeto, Patrícia Velloso. “Tem sido muito significativo para muitos deles. O entusiasmo dos detentos da ala LGBT, sobretudo, nos surpreendeu. Durante todo o processo, eles pediam outros livros e acredito que sentirão muita falta se o projeto não tiver continuidade nas unidades prisionais”, contou.
Levando-se em consideração que, de todas as atividades culturais, a única realmente factível para o presidiário é a leitura, devido ao confinamento, o Servas acredita na força transformadora do livro.
“Acreditamos que a leitura, além de prazerosa, é uma atividade capaz de descortinar horizontes, ampliando a capacidade de reflexão de todos que dela se ocupam. Num presídio, ler é muito importante já que o conhecimento, nesse caso, é literalmente libertador”, observa a presidente do Servas, Carolina Pimentel.
O Rodas de Leitura pode também contribuir para remição das penas conforme recomendação nº 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Saiba mais sobre esse e outros projetos do Servas em www.servas.org.br.