Subiu para 64 o número de cachaçarias mineiras que obtiveram o selo da Certificação da Cachaça Artesanal de Alambique oferecido pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Outros 10 empreendimentos estão em processo de certificação. Minas possui, atualmente, 105 marcas de cachaças certificadas. Até o fim do ano passado, apenas 10 produtores tinham o selo e 54 estavam em processo de certificação. A expectativa do IMA é de que, até o fim deste ano, 100 cachaçarias obtenham o selo.
O diretor-geral do IMA, Altino Rodrigues Neto, afirma que a evolução do processo de certificação demonstra a preocupação do produtor na valorização do seu produto. “Hoje o produtor entende que a certificação agrega valor e abre as portas para o mercado internacional. É um investimento”, explica.
Para o presidente da Cooperativa Central dos Produtores de Cachaça de Alambique de Minas, Trajano Raul de Lima, a certificação é um comprovante de que a cachaça é realmente artesanal. “O selo atesta que o produto foi realmente produzido de maneira artesanal e, além disso, permite que os produtores certificados sejam informados e atualizados sobre as últimas inovações tecnológicas na produção de cachaça”, ressalta.
Trajano ainda incentiva os produtores que não participam a se inscreverem no programa o quanto antes. “Meu conselho é que certifiquem o mais rápido possível. O custo para adquirir o selo vale a pena, pois a cachaça terá mais valor no mercado. E para os produtores que ainda estão na informalidade, este pode ser o caminho para se profissionalizar”, conclui.
Cachaças certificadas
O dono da cachaça Terra Forte, Ronaldo Vasconcelos, é um dos produtores mineiros que possuem o selo. Ele procurou o programa de certificação por perceber a seriedade com que o IMA tem desenvolvido a atividade. “Percebi que a fiscalização e as auditorias são realmente sérias e isso influencia na qualidade do produto. Após obter a certificação, meu produto teve mais aceitação no mercado e o aumento das vendas chegou a 30%”, comemora.
Vasconcelos seguiu o exemplo do produtor Geraldo Maia da Silva, de Divinópolis, Centro-Oeste mineiro, que produz a Ferrador, primeira cachaça artesanal de origem orgânica a obter o selo, em 2005. Além de agregar valor ao produto, o programa abriu portas para intensificar a comercialização, inclusive no mercado internacional.
Uma antiga variedade de cana-de-açúcar, adubos orgânicos,aliados à estrutura sólida de uma empresa familiar e o cuidado da produção em pequena escala são alguns dos ingredientes que garantiram o sucesso do produto. A garrafa custa R$ 70, quase três vezes superior ao valor comercializado antes da certificação, e já conta com uma clientela fiel espalhada pelo Brasil e por outros países, como Argentina, China, México, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos.
Sistemas produtivos
O programa de certificação do IMA engloba somente produtores de cachaça produzida artesanalmente, com fermento natural e destilada em alambique de cobre. Para participar, o produtor deve fazer o pedido em uma unidade do IMA, quando são solicitados documentos, como CPF ou CNPJ, registro do responsável técnico pelo estabelecimento, termo de posse e registro no Ministério da Agricultura.
No momento de requerer a certificação, o produtor pode optar por três sistemas produtivos da cana: o sistema orgânico, o sem agrotóxicos e o sistema tradicional. No primeiro, a cana deve ser cultivada sem agrotóxico e adubo químico. No segundo, não pode haver aplicação de agrotóxicos e o uso do adubo químico é permitido. E no tradicional é permitido o uso de agrotóxicos e adubos químicos indicados para esta cultura. Das 64 cachaçarias certificadas, 21 optaram pelo sistema orgânico, duas pelo sistema sem agrotóxico e as demais pelo convencional.
As taxas de registro e auditoria devem ser pagas pelo produtor e custam, respectivamente, 60 e 100 UFEMGS, o que em valores atuais equivalem a R$ 122,09 e R$ 203,49. Caso a auditoria do IMA não exija adequações nas instalações, este é o único custo do produtor.
Mercado da Cachaça
Minas é o primeiro produtor nacional de cachaça artesanal, com quase 50% da produção. São 8.466 alambiques e uma produção de cachaça que alcança 230 milhões de litros por ano. A atividade movimenta R$1,3 bilhão só com o mercado interno, gerando cerca de 240 mil empregos.
As regiões Norte, Jequitinhonha e Rio Doce detêm 63% da produção mineira. A Região Metropolitana de Belo Horizonte fica com a fatia de 14%, segundo dados da Associação Mineira dos Produtores de Aguardente de Qualidade (Ampaq).
Cachaça artesanal
Trata-se da bebida fermentada destilada, de forma natural, de aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de 38% vol a 48% vol (em volume), a 20ºC. É obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar fabricada em safras anuais, a partir de matéria-prima básica ou transformada, processada de acordo com as características históricas e culturais de cada região e elaborada e engarrafada na origem.